Ainda devo estar na última leva da geração à rasca. A que cresceu aos sons de palavras de incentivo ao estudo como sinónimo de encostar para a vida a barriga na secretária e na mesa de jantar. Mas lá nos vamos desenrascando [esta é outra palavra portuguesa sem tradução possível]. Afinal tínhamos sonhos e melhor ou pior lutamos por eles.
O problema aflitivo de que parece padecer esta geração é que não sonha. Está em estado vegetativo. Ó estudar pra quê se os licenciados estão todos desempregados?! Ó trabalhar pra quê se pagam uma miséria e se estou melhor em casa porque afinal os pais ganham bem?!
Não é o que se vai vomitando em jeito de gira o disco e toca o mesmo em casa ao jantar, nas reuniões de família, nas conversas de circunstância no café, no cabeleireiro, na farmácia, no talho, no supermercado... É certo e sabido que não pecamos pelo otimismo, mas o grau de pessimismo atual é medonho. Se ao menos nos fizesse arregaçar as mangas e andar prá frente, mas não. Ou nos dá para paralisar ou para fazer as malas e ir pôr os talentos a render noutra freguesia.
A eles é vê-los deambulantes, em estado hipnótico a sorver pausadamente o cigarro, a ansiarem pelos concertos de verão, pelos encontros de sábado à noite e a atirarem-se para os lençóis como quem se atira ao fundo de um poço. Alheios a tudo e a todos. Afinal ninguém espera nada deles. [Talvez seja legitima defesa].
É urgente sonhar.
Sem comentários:
Enviar um comentário